Nenhum dos 11
candidatos que moram e fizeram campanha na Rocinha – cuja população alcança a marca de
69 mil pessoas, segundo o Censo de 2010 – foi eleito para
a Câmara Municipal do Rio de Janeiro neste ano. A eleição para vereador ficou
registrada pelo lançamento de mais um candidato ligado à Associação
Pró-Melhoramento dos Moradores da Rocinha, Léo da Comunidade, apelido
de Leonardo Rodrigues Lima, do PTN. Ele tentava abocanhar os mais de 11 mil
votos que deram ao ex-presidente da associação Luiz Cláudio de Oliveira, do
PSDC, uma das 51 vagas na Câmara em 2008. Esta foi não a única semelhança.
Assim como Claudinho, à época acusado de ter ligações com o tráfico de drogas,
Léo também foi investigado. O Ministério Público Eleitoral (MPE) juntou provas
para indiciá-lo por crimes eleitorais, como distribuição de cestas básicas para
ganhar votos, boca de urna e aglomeração de mais de 20 cabos eleitores no dia
das eleições. O comandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na Rocinha,
major Edson Santos, lembra que os moradores da favela já estavam acostumados a
isso:
– Foram anos e anos emergidos no
tráfico de drogas e em grupos locais. Vai demorar um tempo, uns 15, 20 anos para mudar a realidade, para as
pessoas terem o costume de ver outras coisas.
Campanhas como a de Léo,
segundo o major, tendem a diminuir à medida que a pacificação se consolida na
favela e, portanto, o direito do cidadão é restabelecido.
São 21h15 e faltam seis
dias para o dia da votação. Cerca de 150 moradores da Rocinha descem da laje da
Academia R1, no Trampolim, depois de reunião com Léo. Todos vestem a camisa da
campanha – amarela, sem foto ou número de candidato –, herança da campanha de
Claudinho em 2008. O comitê e a casa de Léo, um prédio numa das partes mais
nobres da favela, ficam logo em frente ao empreendimento de paredes laranjas.
Ali, ocorre outro encontro da campanha de Léo. Desta vez, numa mesa longa,
composta somente por jovens, vista facilmente por meio das portas de vidros do
comitê. Todos prometem que Léo será eleito.
A vitória não veio, e o
candidato recebeu 5.775 votos. A escolha do partido, entretanto, esteve atrelada
desde o começo unicamente ao objetivo de ser eleito:
– Eu não conhecia o PTN. Acho que é uma
coisa de Deus. Existe (sic) partidos
grandes que você tem que fazer muitos votos para poder entrar, brigar com
pessoas de poder aquisitivo muito alto. Eu tinha que procurar um partido no
qual eu possa fazer 6 mil, 8 mil votos e ganhar a eleição – recorda-se
Léo.
O cientista político
Ricardo Ismael ressalva que muitos votos não garantem que o candidato entre para
a lista de eleitos. Para ter direito a uma cadeira na Câmara, o partido ou a
coligação teve de atingir nessas eleições, no mínimo, o quociente eleitoral de
61.051.
A menos de um quilômetro da
casa de Léo, mora outro candidato, Antônio Ferreira de Mello. Ele sai todas as
manhãs com os bolsos repletos de cartões. De beco em beco, cumprimenta os
moradores da Rocinha e pede votos para o candidato Xaolin. É assim que ele é
reconhecido desde a juventude, quando lutava artes marciais e foi apelidado com
o nome do inimigo de Bruce Lee nos cinemas. Na época da ditadura militar, ele
se lembra de ter assumido função de jogar pedra e bola de gude nos cavalos do
policias. Para ele, o engajamento político desde
a adolescência pode ser um diferencial na decisão do eleitor.
Foi mais tarde, em 1998,
porém, que Xaolin largou o PDT para se filiar ao partido pelo qual lançou a
candidatura à Câmara dos Vereadores, o PC do B, e conquistou 711 votos. Não
ganhou. Candidato a deputado federal em 2006, a deputado estadual em 2010 e a
vereador em 2012, Xaolin não pretende parar a luta por uma vaga no
legislativo.
(Matéria feita para a disciplina Técnicas de Reportagem em outubro de 2012)
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