A morte do jornalista Tim Lopes, executado por traficantes do
Morro do Alemão, onde estava infiltrado para fazer uma reportagem investigativa
para a TV Globo, em 2002, foi o estopim
para a criação da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Dez
anos depois do surgimento do órgão, o atual presidente da associação e
editor-chefe do RJTV 2a Edição, Marcelo Moreira, participou de mesa
na sala 102-K com o professor da matéria eletiva Jornalismo Investigativo da
PUC-Rio, Leonel Aguiar, nesta terça-feira (13).
– Não era normal um jornalista ser assassinado. Se algo não
fosse feito naquele momento, o Brasil poderia caminhar para a banalização da
morte dos jornalistas – recorda-se Moreira, para aproximadamente 50 alunos.
Moreira acrescentou que a tendência seria a autocensura dos
jornalistas por medo, em razão da falta de investigação do crime para encontrar
o culpado. A união dos profissionais em busca de respostas podia ser o caminho. A conjuntura internacional, no entanto, não era favorável.
– O Brasil tinha estreado na Copa do Mundo contra a Turquia.
Era um momento de festa, e nós, jornalistas, estávamos preocupados em saber
onde estava Tim Lopes.
Apesar disso, houve manifestações em Copacabana, na Tijuca,
na Penha e encontros no sindicato dos jornalistas. E a partir do momento de
tensão, os colegas de Tim decidiram tirar da morte dele algo positivo. Segundo
Moreira, o término da matéria que Tim produzia foi cogitado, assim como ocorreu
no Arizona, Estados Unidos, com jornalista morto pela máfia que ele
investigava. Como não conseguiram acabar a matéria, viram-se obrigados a cobrar
“que as autoridades fizessem o papel delas”.
Nos primeiros passos, a função da Abraji se resumia a seminários
curtos, de um, dois dias e oficinas para usar Microsoft Excel e banco de dados.
Com o tempo, mais profissionais passaram a reconhecer a importância do órgão, e
o espaço da organização aumentou. Como exemplo, pode-se citar o prêmio Liberdade
de Imprensa dado pela Associação Nacional de Jornais (ANJ) para a organização. (Leia mais)
Moreira adiantou que, de 12 a 15 de outubro de 2013, a
PUC-Rio sediará uma das maiores conferências sobre a área, em congresso
organizado pela Abraji. Esta será a primeira vez que o evento ocorre fora da
Europa. O objetivo é reunir profissionais envolvidos no tema para discutir os
métodos e trocar experiências. (Leia mais)
Colocar ou não o nome do traficante Marcinho VP
Durante a palestra, o jornalista também lembrou uma história inviável hoje, pós-morte de Tim Lopes e pós-pacificação da favela Santa Marta, em Botafogo. Ele (então Jornal do Brasil), Nelito Fernandes (então O Globo) e Silvio Barsetti (então O Dia) entrar na favela com o objetivo de conseguir uma entrevista com o cantor Michael Jackson, que gravaria um clipe no local. Nem tudo saiu como os planos, mas a vaidade de Marcinho VP rendeu, no mínimo, uma entrevista sobre o bandido.
Um trecho do livro reportagem-romance "Abusado" rende uma discussão ética válida para todos que temos a pretensão de ser bons jornalistas.
Em 1996, três repórteres dos três maiores jornais do Rio se infiltraram na favela Santa Marta. Os profissionais queriam produzir material exclusivo sobre o assunto que todo o país discutia naquela época: a gravação de um clipe de Michael Jackson no morro. Os três menosprezaram a organização do grupo criminoso que dominava a comunidade e não demorou muito para que fossem descobertos "disfarçados" de "favelados". Até aí, ok. Dois deles eram bem novos e temos de nos arriscar por uma matéria que acreditamos, mesmo correndo o risco de ficar sob a mira das metralhadoras de gente que julga e executa "sentenças" de morte com muito mais "rapidez" que o Estado. (Continue lendo o texto)
Mais sobre Tim
Leia mais sobre o jornalista Tim Lopes com o post A primeira semana, publicado no dia 11 de agosto.

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