terça-feira, 13 de novembro de 2012

A trajetória da Abraji


A morte do jornalista Tim Lopes, executado por traficantes do Morro do Alemão, onde estava infiltrado para fazer uma reportagem investigativa para a TV Globo, em 2002,  foi o estopim para a criação da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Dez anos depois do surgimento do órgão, o atual presidente da associação e editor-chefe do RJTV 2a Edição, Marcelo Moreira, participou de mesa na sala 102-K com o professor da matéria eletiva Jornalismo Investigativo da PUC-Rio, Leonel Aguiar, nesta terça-feira (13).

– Não era normal um jornalista ser assassinado. Se algo não fosse feito naquele momento, o Brasil poderia caminhar para a banalização da morte dos jornalistas – recorda-se Moreira, para aproximadamente 50 alunos.

Moreira acrescentou que a tendência seria a autocensura dos jornalistas por medo, em razão da falta de investigação do crime para encontrar o culpado. A união dos profissionais em busca de respostas podia ser o caminho. A conjuntura internacional, no entanto, não era favorável.

– O Brasil tinha estreado na Copa do Mundo contra a Turquia. Era um momento de festa, e nós, jornalistas, estávamos preocupados em saber onde estava Tim Lopes.


Apesar disso, houve manifestações em Copacabana, na Tijuca, na Penha e encontros no sindicato dos jornalistas. E a partir do momento de tensão, os colegas de Tim decidiram tirar da morte dele algo positivo. Segundo Moreira, o término da matéria que Tim produzia foi cogitado, assim como ocorreu no Arizona, Estados Unidos, com jornalista morto pela máfia que ele investigava. Como não conseguiram acabar a matéria, viram-se obrigados a cobrar “que as autoridades fizessem o papel delas”.

Nos primeiros passos, a função da Abraji se resumia a seminários curtos, de um, dois dias e oficinas para usar Microsoft Excel e banco de dados. Com o tempo, mais profissionais passaram a reconhecer a importância do órgão, e o espaço da organização aumentou. Como exemplo, pode-se citar o prêmio Liberdade de Imprensa dado pela Associação Nacional de Jornais (ANJ) para a organização. (Leia mais)

Moreira adiantou que, de 12 a 15 de outubro de 2013, a PUC-Rio sediará uma das maiores conferências sobre a área, em congresso organizado pela Abraji. Esta será a primeira vez que o evento ocorre fora da Europa. O objetivo é reunir profissionais envolvidos no tema para discutir os métodos e trocar experiências. (Leia mais)


Colocar ou não o nome do traficante Marcinho VP

Durante a palestra, o jornalista também lembrou uma história inviável hoje, pós-morte de Tim Lopes e pós-pacificação da favela Santa Marta, em Botafogo. Ele (então Jornal do Brasil), Nelito Fernandes (então O Globo) e Silvio Barsetti (então O Dia) entrar na favela com o objetivo de conseguir uma entrevista com o cantor Michael Jackson, que gravaria um clipe no local. Nem tudo saiu como os planos, mas a vaidade de Marcinho VP rendeu, no mínimo, uma entrevista sobre o bandido. 

Um trecho do livro reportagem-romance "Abusado" rende uma discussão ética válida para todos que temos a pretensão de ser bons jornalistas. Em 1996, três repórteres dos três maiores jornais do Rio se infiltraram na favela Santa Marta. Os profissionais queriam produzir material exclusivo sobre o assunto que todo o país discutia naquela época: a gravação de um clipe de Michael Jackson no morro. Os três menosprezaram a organização do grupo criminoso que dominava a comunidade e não demorou muito para que fossem descobertos "disfarçados" de "favelados". Até aí, ok. Dois deles eram bem novos e temos de nos arriscar por uma matéria que acreditamos, mesmo correndo o risco de ficar sob a mira das metralhadoras de gente que julga e executa "sentenças" de morte com muito mais "rapidez" que o Estado. (Continue lendo o texto)


Mais sobre Tim

Leia mais sobre o jornalista Tim Lopes com o post A primeira semana, publicado no dia 11 de agosto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário