No documentário Abaixando a máquina – ética e dor no fotojornalismo carioca, os fotógrafos do Rio de Janeiro contam os bastidores da notícia, como a entrada em áreas dominadas pelo tráfico de drogas, acompanhada de policiais, e o registro de momentos íntimos de pessoas comuns. O longa-metragem de Guillermo Planel e Renato de Paula relembra, por meio de depoimentos dos profissionais da câmera fotográfica, fatos marcantes, como o sequestro do ônibus 174, a mudança na rotina após a morte do jornalista Tim Lopes, no Morro do Alemão, e a foto de engenheiro baleado, no colo da mãe, no Centro – que rendeu a Marcelo Carnaval o Prêmio Esso 2006.
Há imagens dos fotojornalistas entrando na favela para registrar o sofrimento e da dor dos moradores, depois de conflito entre a polícia e o exército do tráfico de drogas. O filme cumpre a função de discutir o noticiário policial e toca na importância da imagem como ferramenta fundamental na resistência à desinformação, questionável por alguns profissionais.
Os fotógrafos ressaltam a força da imagem para fazer as pessoas se darem conta da situação em que a sociedade se encontra. Ali, segundo eles, há a busca por registrar a realidade, aquilo que o profissional vê, consta e precisa se passar para o leitor, para o internauta. Questiona-se, porém, se essa visão do fotojornalista não está muito deturpada (costuma-se dizer que os jornalistas usam “óculos especiais”) a ponto de publicar uma foto que, na verdade, desconstrói a realidade e confunde a população. A escolha da foto pode ser interferida por critérios editoriais e ser usada mais como produto do que como realidade, argumenta-se. Por exemplo, por que se usa mais fotos de operações policiais? Acredita-se que a decisão esteja ligada estreitamente ao interesse mercantilista, ao objetivo de vender jornal e, assim, dar mais espaço para notícias que transformam o Rio numa cidade violenta, armada e perigosa. A imagem vendida pela imprensa se espalha pelo mundo, consolidando os adjetivos associados ao Rio.
Os limites dos fotojornalistas também entram em pauta quando se pensa na privacidade da população, principalmente dos moradores das favelas dominadas pelo tráfico de drogas, invadidas por policiais que ostentam fuzis e armas poderosas. Muitas vezes, nenhuma palavra é trocada com a pessoa antes de o fotógrafo registrar o momento. Eles apertam o botão a qualquer custo, e depois, analisam se determinada foto deve ser ou não censurada. Um exemplo de análise é a foto vencedora do Prêmio Esso 2006 na qual Marcelo Carnaval flagrou uma mãe com o filho morto depois de baleado no colo, durante a noite, no Centro. Critica-se a atitude do fotógrafo ao registrar o momento por acreditar que aquele era um momento íntimo, quando a mãe enfrentava o falecimento de um ente querido. Outros reforçam a importância de fotografar para abrir os olhos da população quanto à violência da cidade e, assim, lembrar o grande obstáculo a ser enfrentado. Já quem critica enxerga a publicação da foto como produto, cujo interesse principal é a venda em escala para aumentar a renda do veículo de comunicação.
Atrás dos policiais, muitas vezes presentes para fazer operações policiais com objetivo de prender bandidos ou apreender drogas e armas, os fotógrafos correm o risco de levar uma bala. Assim como ocorreu há um ano, quando o repórter cinematográfico Gelson Domingos, da TV Bandeirantes, foi morto depois de atingido por tiro de fuzil na Favela de Antares, Zona Oeste do Rio. Desta forma, no decorrer do filme, questiona-se a falta de segurança que cerca os profissionais da área. Em determinado trecho, mostra-se imagens gravadas no dia 17 de abril de 2007 no Catumbi, quando tiros se aproximam da equipe de jornalistas, que são obrigados a recuar. O gosto pela ação e a falta de conhecimento sobre a noção do perigo são destacados pelos fotógrafos ouvidos, que admitem trabalhar numa profissão perigosa.
Isso daqui não é uma aula de fotojornalismo, de Mauro Pimentel
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