quarta-feira, 28 de novembro de 2012

Política, muita política na ECO-UFRJ

Acostumados a cobrir ações, principalmente, do Congresso e do Executivo, os jornalistas da editoria de política passaram a olhar mais para o Judiciário com o julgamento do Mensalão pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Esta é uma das percepções do repórter de O Globo e professor da PUC-Rio Chico Otávio, contada em debate no Auditório Pedro Calmon, parte da VI Semana de Jornalismo da Escola de Comunicação (ECO), da UFRJ, na manhã desta quarta-feira (28).

Chico Otávio também destacou o desafio de traduzir o “juridiquês” dos ministros do STF para os leitores e escrever sobre o julgamento de um escândalo que ocorreu há sete anos.

– Sobre o escândalo em si havia muito pouco fato novo. Não tinha da investigação em si, algo novo a noticiar. Então, o foco tinha que ser na discussão jurídica, e você também ia logicamente acompanhar a repercussão.

Ele se recordou que, este ano, o julgamento e as eleições municipais disputaram manchete e espaço no jornal. O favoritismo de Eduardo Paes, porém, favoreceu para a concentração dos jornalistas ficar com a votação do STF, em Brasília. Como consequência, a informação sobre a corrida para a Câmara dos Vereadores ficou ainda mais prejudicada.

A secretária de redação da sucursal da Folha S.Paulo no Rio de Janeiro, Cristina Grillo, lembrou que o Mensalão desperta paixões e polêmicas. A jornalista, que também tem formação em Direito, entrevistou o jurista alemão Claus Roxin em novembro deste ano sobre a teoria do domínio do fato, citada no relatório do ministro Joaquim Barbosa e pelos advogados de defesa. Roxin, responsável por aprimorar a teoria, estava no Rio para participar de um seminário, e Cristina aproveitou para conversar sobre o assunto. O feedback, no entanto, foi confuso, “uma chuva de queixas, reclamações e elogios”.

– Você é xingado de todas as maneiras pelas pessoas. Sempre pelo pseudônimo. Mesmo quando você faz matéria que pretende ser técnica, no sentido de explicar aquilo sobre o que as pessoas estão falando – reclamou Cristina, que acha “interessante ser acusada de estar de um lado ou de estar do outro” para confirmar que está ouvindo todas as versões possíveis.

Consequências do fim do monopólio da fala e do papel cada vez maior das redes sociais, como lembra o jornalista de O Dia Fernando Molica. A cobertura política, contou Chico Otávio, também passou por mudanças. Enquanto nos anos 50, ficava muito concentrada na sessão plenária, no discurso, hoje “muitas vezes um gesto, uma expressão, um abraço, um aperto de mão podem ser mais importantes que um discurso”.

Apesar das diferenças com o passar dos anos, Molica criticou a cobertura de política dos veículos de comunicação. Para ele, falta analisar patrimônios de políticos, privatizações, doações de empresas para campanhas políticas para acompanhar com mais rigidez o desempenho dos eleitos. Molica se recordou que a estreita relação da Delta Construções com o Governo do Estado do Rio só foi desmascarada depois de o helicóptero do empresário Fernando Cavendish cair na Bahia, em junho de 2011. O jornalista revelou que a proximidade já era sabida, mas faltavam prova e tempo para investigar o caso.

– O maior problema é dinheiro para investir. Tirar um repórter [do dia a dia da redação] custa dinheiro. Tem que pagar fotógrafo, pagar viagem, e as redações estão cada vez mais enxutas – disse Molica, sobre o porquê de os jornalistas não terem olhado os contratos da empresa antes da queda do helicóptero.

Para Mario Augusto Jakobskind, correspondente do jornal uruguaio Brecha, a regulamentação da imprensa e a ampliação do espaço das mídias pública e comunitária são o caminho, porque “a imprensa [brasileira] hoje é um aparelho ideológico das elites”.

– Sem isso, a democracia vai ficar enfaixada. Não é uma verdadeira democracia. Sem acesso a informação para todos não há democracia. Vamos ficar eternamente sem atacar o principal – reforçou Jakobskind, que enxerga Venezuela e Argentina como exemplos a ser seguidos.


Leia também: 
O tiroteio virtual na internet, de Fernando Molica

terça-feira, 27 de novembro de 2012

Debates, palestras e oficinas na ECO-UFRJ


Os jornalistas Cristina Grillo, Chico Otávio, Fernando Molica e Mario Augusto Jakobskind participam de debate sobre o jornalismo da editoria de política, das 9h às 12h, nesta quarta-feira (28), no Auditório Pedro Calmon, na Escola de Comunicação (ECO) da UFRJ. A mediação é de Suzy Santos. O encontro faz parte da VI Semana de Jornalismo da universidade, conhecida como Meio a Meios 2012. Leia mais.

Nesta terça-feira (27), a ECO reuniu profissionais para discutir o jornalismo ambiental. Já na próxima quinta (29), será a vez de Luiz Ernesto Magalhães, Maurício Torres, Renato Cosentino e Carlos Alberto Vieira irem à universidade. A mediação fica por conta da professora Cristina Rego Monteiro.

À tarde, haverá oficinas sobre conteúdos variados. As desta quarta-feira são:
Webativismo com Gustavo Barreto, das 17h30 às 19h30;
Radiojornalismo com Rodolfo Schneider, das 13h às 15h, na sala 105A;

segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Quando a imprensa censura

O Twitter suspendeu na segunda-feira da semana passada (19) a conta Times Is On It, depois de The New York Times acusar o dono do log in, que ironizava o jornal, de violação da marca. Mais de 25 mil pessoas seguiam Times Is On It, que tinha entrado para a lista dos 140 melhores Twitters de 2012.

A relações públicas Eileen Murphy falou que é importante que os direitos autorais do The Times fiquem protegidos e que contas paródias ou outros perfis não-oficiais deixem claro que não são ligados nem aprovados pela empresa. Eileen também reclamou que a conta fazia uso do iconic "T" no avatar, imagem também usado pelo veículo.




Esta, porém, não é a primeira vez que um veículo de comunicação grande encrenca com paródias na internet. Já se arrasta há um tempo o processo que o jornal Folha de S Paulo entrou contra os irmãos Lino e Mário Ito Bocchini, criadores do blog Falha de S Paulo. O blog da dupla foi tirado do ar em setembro de 2010, quando uma liminar cassou o domínio e o conteúdo.

Hoje, eles mantêm o blog Desculpe a nossa FAlha, em que atualizam o andamento do processo. A ideia de satirizar a Folha se espalhou pela web, e vários blogs similares foram criados. Veja algumas das sátiras no tumblr da Falha. Já para entender melhor o que houve, o blog Desculpe a nossa FAlha criou o espaço "entenda o caso".

Os obstáculos das grandes montadoras

Para o CEO do grupo Renault-Nissan, Carlos Ghosn, o Brasil não forma o número suficiente de engenheiros. Ele acredita que, a curto prazo, haverá aumento de salário e importação de profissionais. O decano do Centro Técnico Científico (CTC), Luiz da Silva Mello, ressalva que a quantidade de alunos de Engenharia na PUC-Rio aumentou 50% de 2007 para 2012, quando alcançou a marca de 3,5 mil estudantes. Em palestra nesta segunda-feira (26), no Auditório Padre Anchieta, Ghosn aponta a infraestrutura e a falta de competitividade de setores brasileiros como os principais obstáculos para o aumento da produção de automóveis no país.

– Falta investimento em infraestrutura – estrada, aeroporto, eletricidade. Quando se compara o Brasil com México, Indonésia, China e Índia, o Brasil tem potencial forte, mas tem um dos maiores obstáculos: a infraestrutura.

Ghosn acrescenta que, apesar de o país ser o primeiro produtor de minério de ferro do mundo, o aço mais barato não é brasileiro. A commoditie sai do Brasil para a Coreia do Sul para ser transformada em aço e volta para o Brasil a um preço menor que o brasileiro.
Reprodução/Internet

Ele enxerga ainda uma mudança geográfica da indústria automobilística. Para ele, o investimento caminha para a Ásia e para o Hemisfério Sul, com necessidade de mais capacidade de produção e desenvolvimento principalmente nos BRICs e nos países africanos.

A tendência é as fábricas ficarem localizadas nos países em que os veículos são vendidos, conta Ghosn. Como exemplo, cita a da Nissan em Resende, interior do Rio de Janeiro, programada para começar a funcionar em 2013.

– Nos anos passados, você produzia o carro nos Estados Unidos, na Europa ou no Japão e vendia para o resto do mundo. Hoje isso não funciona. Tudo vai ficar mais localizado. Isso significa que os empregos gerados pela indústria automobilística vão ficar localizados também.

Já a chegada de carros elétricos da Renault-Nissan ao Brasil, para Ghosn, não parece estar tão perto. Ele afirma que “é impossível produzir e vender hoje no Brasil. O brasileiro compra o carro elétrico se o preço for razoável. Se for caro, ele quer que o vizinho compre”.

Ghosn lembra, inclusive, que alguns governos dão incentivo fiscal direto para quem compra carro elétrico – o que não ocorre no Brasil. Ele reforça que a tecnologia para poluir menos é mais cara e, para facilitar a expansão dos “carros verdes”, alguns países taxam de acordo com a emissão de CO2. Até os taxis de Londres e Nova York vão mudar: serão da Nissan, porque a montadora se comprometeu a entregar carros elétricos.

Leia também: 
Carro elétrico já é realidade, mas não no Brasil, de Caio Lima para o Portal PUC-Rio Digital em 06/09/2011

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A paixão pela máquina

O sorriso foi a principal forma de comunicação na Índia para Felipe Fittipaldi, cinegrafista da TV Globo e fotógrafo colaborador para Folha de S.Paulo e Veja Rio. Formando em 2007 em Jornalismo pela PUC-Rio, Fittipaldi voltou nesta sexta-feira (23) à universidade para falar da experiência de três meses na Ásia, para onde ganhou passagem aérea em concurso de fotografia realizado pela empresa Air France, e da vida no mercado de trabalho. 

O destino de Fittipaldi foi Ladakh, no Himalaia. Ele lembra que a escolha do local esteve relacionada ao baixo custo de vida, que teria de ser pago por ele, e ao alto preço de passagens aéreas para o continente. Apesar disso, Fittipaldi se hospedou algumas vezes na casa de moradores, que, gentilmente, não cobravam nada. Ele, porém, dava contribuições como forma de agradecimento. 

– Foi um trabalho divisor de águas, que mudou a minha relação com fotografia e abriu portas – recorda-se Fittipaldi, que esteve lá em 2008 e chegou a escrever uma reportagem, mas não a publicou. 

Além disso, o fotógrafo contou como funciona trabalhar para uma revista semanal, Veja Rio, e um jornal diário, Folha de S.Paulo. Segundo ele, para a Veja Rio, ele pode levar a foto para casa, pensar com tempo. Há, ainda, uma editora de arte que pauta de forma precisa a foto que ele precisa fazer. Ele ressalva, porém, que também pode fazer fotos com ideias dele. 

Já para a Folha, Fittipaldi lembra que não tem tempo de editar e corre para enviar a foto para o site do jornal. 

– Você senta num cantinho e manda as fotos por FTP para o site da Folha de S. Paulo. Vai do jeito que for, o importante é estar ali agora – diz Fittipaldi, que admite não gostar muito do “imediatismo”. 

Fora o concurso da Air France, Fittipaldi acumula outro prêmio na carreira: O olhar de fora da favela, do jornal O Globo, que o premiou com R$ 10 mil. Ele se lembrou de que a foto foi feita durante uma semana que ele passou com um repórter da Veja Rio dentro da favela Santa Marta, em Botafogo. O fotógrafo acrescenta que classifica como desrespeitoso a forma com que alguns profissionais trabalham dentro das favelas. Ele acredita que o fotógrafo tem de ser discreto, mas tomar cuidado para as pessoas não reagirem mal à câmera fotográfica. 

A paixão pela máquina surgiu quando Fittipaldi optou por cursar fotografia em Utah, nos Estados Unidos, onde estava para estudar o idioma. O domínio da língua inglesa não era pleno, então ele quis fotografar. Ali, ele não sabia a câmera poderia ser mais que um hobby. Anos depois, como fotógrafo do Projeto Comunicar, da PUC-Rio, ele ainda acreditava que “fotografia era divertido demais para ser uma profissão”. 

Hoje, Fittipaldi trabalha em três veículos de comunicação e conta histórias por meio de narrativas visuais.

Veja o ensaio fotográfico de Felipe Fittipaldi em Ladakh:


Leia também:
Modernização da fotografia exige profissional "midiático", de Carolina Bastos para o Portal PUC-Rio Digital em 25/05/2011

domingo, 18 de novembro de 2012

A super-produção da Caravana JN

Caravana JN: "Éramos como grupo de rock" 
Por Gabriela Caesar para o Portal PUC-Rio Digital em 30/09/2011

E se os apresentadores do Jornal Nacional fossem às ruas do Sul ao Norte do país? A "janela" – aberta nos anos das duas últimas eleições presidenciais (2006 e 2010) – "mostrou a cara do brasileiro”, constata a jornalista Maria Paula Carvalho. Ela aproveitou o período de férias para juntar-se à equipe do JN na jornada de 62 dias. Os bastidores viraram Caravanas da Identidade - Por dentro da maior reportagem do Brasil e perto dos brasileiros (Editora Sulina, 238 páginas, R$ 36), lançado no ano passado. Maria Paula contou parte dessas histórias aos estudantes da PUC-Rio (assista à palestra), na terça-feira (27). Ela reconheceu a dificuldade em consumar a novidade num telejornal de mais de 40 anos, com a audaciosa produção de 52 reportagens no percurso de quase 17 mil quilômetros.

Desdobramento da dissertação de mestrado de Maria Paula, feita entre 2007 e 2009, com orientação do professor Leonel Aguiar, o livro conta histórias da aventura jornalística e analisa o impacto da TV no comportamento da sociedade. Para o também jornalista Ernesto Paglia, autor de Diário de bordo - JN no ar (Editora Globo, 376 páginas, R$ 49,90), as publicações são complementares.

A então editora e produtora-executiva Gisele Machado, também presente na palestra, recordou que, por mais que tivessem sido programados serviços, hotéis, refeições etc., a equipe passou por muitos “perrengues”. Como ter de dormir em motel e arrumar uma posição na qual a antena não balançasse. Apesar das dificuldades, Gisele destacou a "atenção e o tratamento dado pela população ao trabalho do JN". 

– Éramos como um grupo de rock que não cantava coisa alguma – comparou.
                                     Reprodução/TV


A Caravana, acrescentou Maria Paula, criou novos laços sociais, "uma relação de afetividade, carinho, das pessoas com os apresentadores." Ela acredita que, a partir dessa experiência, o Jornal Nacional passou a ser "recebido de outra forma em casa". A jornalista também destacou a competitividade entre as cidades, quando a caravana chegou ao Nordeste: “Era cada cidade querendo fazer mais bonito que a outra”.

No ano passado, o ônibus foi trocado por um avião. Em parte, para resguardar o "fator surpresa", que se tornava mais difícil à medida que "as pessoas já tinham uma ideia de onde o ônibus ia chegar", conta Gisele. Segundo ela, também pesaram problemas de infraestrutura nas estradas brasileiras, que obrigava a Caravana a manter um mecânico na equipe:

– Apesar de ser o ônibus do JN, era uma cenografia ambulante. Parafernália toda, sem ar-condicionado – ressalvou.

sábado, 17 de novembro de 2012

SOS Rocinha

A vista da casa de Tiago Sacramento e Janaina Pinto é um amontoado de lixo – carrinho de bebê, sofá, televisão, mesa, sacolas de lixo, restos de propaganda política, garrafas PET. O imóvel fica na região da Rocinha conhecida como Roupa Suja, próximo ao Túnel Dois Irmãos, e estava abandonado antes de o casal chegar. 

Sacramento conta que os antigos moradores foram retirados para a casa ser demolida, por causa das obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O segundo e terceiro andar já se foram, lembra, e agora falta derrubar onde eles vivem. Antes de se mudar para a habitação, há um ano, o casal morou em outras áreas da favela e, por último, acampou na Praia de São Conrado durante toda a gestação da segunda filha da união, Thainá. 

– Teve uma ressaca que quase “pegou” a gente de madrugada. Sorte que eu acordei, e a gente saiu correndo, senão ia cair dentro da vala – recorda-se Sacramento. 

Na Roupa Suja, em vez de se preocupar com o mar, Janaina e Sacramento precisam ficar atentos a ratos, baratas e aranhas que invadem a casa. Para isso, contam com a ajuda do vira-lata Sinistrinho, que tenta matar, principalmente, os roedores. 

O casal afirma que descarta o lixo numa lixeira depois de alguns lances de escada abaixo, mas, pela quantidade de lixo, não é o que a maioria dos moradores faz. “As pessoas deixam o lixo na porta delas, na porta dos outros, largam o lixo no beco. Quando alguém joga lixo aqui, eu berro ‘isso não é lixeira, não!’”, reclama. 

Foram outros problemas da favela, porém, que fizeram Sacramento parar no Hospital Municipal Miguel Couto e na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Rocinha. 

– Eu pisei no esgoto, dentro da vala, e um jato de água veio na minha cara. Deu infecção, e eu senti dor no estômago. A vizinha tinha me pagado R$ 50 para eu limpar e aconteceu isso – conta, sobre a época em que morava na Rua 4, na Rocinha.

Outros becos da Rocinha:


Direito de resposta para a Comlurb - 21/11/2012:

Para remover o lixo das encostas, a Comlurb disponibilizou garis alpinistas na Rocinha, principalmente na localidade "Roupa Suja" que fica em cima do túnel Zuzu Angel. A interrupção dos serviços aconteceu devido às chuvas dos últimos dias. E os resíduos são removidos à medida que a limpeza é feita. Hoje, dia 21, os serviços foram retomados. Esses trabalhadores foram treinados com apoio de técnicos da Defesa Civil e utilizam técnicas de manejo com equipamentos de segurança. Apesar do esforço em manter limpas as encostas, os moradores insistem em jogar lixo no local, fazendo com que a operação emergencial se torne uma rotina. A limpeza de encosta está sendo realizada a cada 15 dias. A Comlurb mantém uma base na parte baixa da comunidade, próxima aos pontos de ônibus, para que os moradores façam o despejo dos resíduos. Também há uma caixa para receber entulho dos moradores. 

Embora seja uma área com passagem constante da população da Rocinha, alguns moradores insistem em jogar o lixo nas encostas, valões, vielas e ruas.

A Rocinha, onde antes da ocupação pelas forças de segurança havia duas bases com caixas compactadoras, passou a contar com quatro bases com caixas compactadoras, com capacidade para oito toneladas de lixo, nos pontos principais da comunidade, que são retiradas duas vezes ao dia. As bases estão disponíveis com essas caixas para recebimento do lixo domiciliar e outras para receber entulho e bens inservíveis encaminhados voluntariamente pela população, e para o lixo e materiais diversos coletados pelos veículos de apoio. Futuramente serão ampliadas as bases para coleta.

A coleta de lixo na Estrada da Gávea e ruas de acesso é feita diariamente e passou a ser duas vezes ao dia, de segunda-feira a domingo.

Antes da pacificação, 30 garis atuavam e, a partir dela, 70 foram contratados e hoje 100 garis atuam na Rocinha.

Atualmente são removidas 120 toneladas de resíduos por dia e antes da pacificação a quantidade era de 80 toneladas/dia.

No período da ocupação, de 14 a 18 de novembro de 2011, os garis da Comlurb retiraram 619 toneladas de resíduos das três comunidades. Atuaram 320 trabalhadores, entre equipes da Rioluz, Comlurb e Coordenadoria Geral de Conservação. Foram utilizados caminhões basculantes, pás mecânicas, caminhões conjugados de drenagem, caminhões cesto, caminhões coletores, varredeiras, poliguindastes, mini-tradores, kombis, compressores e outros veículos leves.A Rocinha também recebeu, nesse período, uma ação de controle de roedores por trinta técnicos e auxiliares de controle de vetores.

É atribuição da Comlurb somente o controle de roedores. A Gerência de Controle de Roedores da Comlurb efetua, semanalmente, intervenções químicas contra roedores em locais críticos da Rocinha como: escolas, incluindo o CIEP, creches, UPA, pontos de descarte de resíduos, valões, etc. Também atende aos pedidos encaminhados pela Associação de Moradores. Para atendimento às residências, os moradores devem solicitar através do Teleatendimento 1746, que funciona 24 horas.

Atenciosamente,

Coordenadoria de Comunicação Empresarial COMLURB

A função social do jornalista

Jornalistas contam como renovam função social 
Por Gabriela Caesar para o Portal PUC-Rio Digital em 24/05/2011

A função social no jornalismo é plenamente exercida? Para discutir o tema, os jornalistas Eduardo Auler e Vinicius Neder vieram à PUC-Rio na quinta-feira passada (19) participar de debate mediado pelo professor Leonel Aguiar, também coordenador do curso de jornalismo (assista à íntegra). Eduardo (foto), chefe de reportagem do jornal Extra, lembrou as dificuldades enfrentadas na produção de reportagens de "cunho social".
                                                      Luisa Nolasco

– Não é fácil a matéria sobre o ensaio sensual de um ator, à qual só foi preciso copiar e colar uma foto, ser 10 vezes mais lida que a sua, na qual você demorou um mês; para a qual você entrevistou várias pessoas; e com a qual você acha que está colaborando para a sociedade – afirmou.

O especialista em coberturas sobre educação confia, entretanto, na sobrevivência da função social do ofício. Ele a considera até estratégica para a imagem de responsabilidade das empresas jornalísticas e dos profissionais de comunicação:

– O jornal é uma marca que se fortalece com as grifes que existem dentro dele. São os repórteres que dão credibilidade a essa marca – acredita.
                                                      Luisa Nolasco

Autor do livro Jornalismo e a exclusão social: análise comparativa nas coberturas sobre crianças e adolescentes (Editora Multifoco, R$ 45), Vinicius (foto) identifica um crescimento da temática social entre meados dos anos 1990 e da primeira década do século XXI, relacionado ao processo histórico brasileiro. Vinicius, porém, ressalva:

– Esse ganho de espaço não significa necessariamente uma qualificação, uma melhoria na qualidade.

Em busca do avanço da qualidade do conteúdo jornalístico, Vinicius pesquisou, na dissertação de mestrado que deu origem ao livro, se “princípios básicos, como ouvir os dois lados e não usar termos pejorativos, eram menos atendidos no dia a dia que em coberturas especiais”. Ele verificou que reportagens premiadas tinham uma média de quatro fontes, contra entre 1,1 e 1,3 em matérias comuns, segundo relatórios da Agência de Notícias dos Direitos da Infância (Andi).

Ex-orientando de Vinicius, o professor Leonel Aguiar destacou a importância de iniciativas como o Prêmio Esso para a valorização das melhores práticas jornalísticas – boa parte delas convertidas em contribuições sociais:

– Servem para mostrar o que há de mais relevante no trabalho dos jornalistas. São as melhores práticas jornalísticas apontadas pela própria comunidade jornalística.

Vencedor do Prêmio Esso de Reportagem em 2006, pela série de reportagem intitulada Adeus, Futuro, sobre a evasão escolar no Rio, Eduardo lembrou que a pauta veio do estranhamento em relação a um dado no release da Secretaria estadual de Educação: 20% dos alunos deixavam a escola. Para apurar a história, ele abriu mão das férias e superou, com a ajuda da sorte, a dificuldade em visitar colégios de cidades mais distantes, como Macaé e Friburgo:

– Soube de um concurso de banda em uma escola pública em Niterói do qual participariam estudantes de diferentes regiões. Fui até lá e peguei o contato de cada um deles – explicou o jornalista, que entrevistou 150 estudantes.

Espirituoso, Eduardo divertiu a plateia ao recordar os bastidores de sua primeira série de reportagens premiada, pela Sociedade Americana de Imprensa (SIP):

– Fiquei dois meses, copiando à mão, mais de cem relatórios do abandono dos Centros Integrados de Educação Pública (CIEPs) do governo Garotinho (1999-2002). Todo dia. No fim, depois de ter copiado praticamente tudo, eu conquistei a confiança de uma das coordenadoras e ela me deu os relatórios.

quinta-feira, 15 de novembro de 2012

O fotojornalismo carioca



No documentário Abaixando a máquina – ética e dor no fotojornalismo carioca, os fotógrafos do Rio de Janeiro contam os bastidores da notícia, como a entrada em áreas dominadas pelo tráfico de drogas, acompanhada de policiais, e o registro de momentos íntimos de pessoas comuns. O longa-metragem de Guillermo Planel e Renato de Paula relembra, por meio de depoimentos dos profissionais da câmera fotográfica, fatos marcantes, como o sequestro do ônibus 174, a mudança na rotina após a morte do jornalista Tim Lopes, no Morro do Alemão, e a foto de engenheiro baleado, no colo da mãe, no Centro – que rendeu a Marcelo Carnaval o Prêmio Esso 2006.

Há imagens dos fotojornalistas entrando na favela para registrar o sofrimento e da dor dos moradores, depois de conflito entre a polícia e o exército do tráfico de drogas. O filme cumpre a função de discutir o noticiário policial e toca na importância da imagem como ferramenta fundamental na resistência à desinformação, questionável por alguns profissionais.

Os fotógrafos ressaltam a força da imagem para fazer as pessoas se darem conta da situação em que a sociedade se encontra. Ali, segundo eles, há a busca por registrar a realidade, aquilo que o profissional vê, consta e precisa se passar para o leitor, para o internauta. Questiona-se, porém, se essa visão do fotojornalista não está muito deturpada (costuma-se dizer que os jornalistas usam “óculos especiais”) a ponto de publicar uma foto que, na verdade, desconstrói a realidade e confunde a população. A escolha da foto pode ser interferida por critérios editoriais e ser usada mais como produto do que como realidade, argumenta-se. Por exemplo, por que se usa mais fotos de operações policiais? Acredita-se que a decisão esteja ligada estreitamente ao interesse mercantilista, ao objetivo de vender jornal e, assim, dar mais espaço para notícias que transformam o Rio numa cidade violenta, armada e perigosa. A imagem vendida pela imprensa se espalha pelo mundo, consolidando os adjetivos associados ao Rio.

Os limites dos fotojornalistas também entram em pauta quando se pensa na privacidade da população, principalmente dos moradores das favelas dominadas pelo tráfico de drogas, invadidas por policiais que ostentam fuzis e armas poderosas. Muitas vezes, nenhuma palavra é trocada com a pessoa antes de o fotógrafo registrar o momento. Eles apertam o botão a qualquer custo, e depois, analisam se determinada foto deve ser ou não censurada. Um exemplo de análise é a foto vencedora do Prêmio Esso 2006 na qual Marcelo Carnaval flagrou uma mãe com o filho morto depois de baleado no colo, durante a noite, no Centro. Critica-se a atitude do fotógrafo ao registrar o momento por acreditar que aquele era um momento íntimo, quando a mãe enfrentava o falecimento de um ente querido. Outros reforçam a importância de fotografar para abrir os olhos da população quanto à violência da cidade e, assim, lembrar o grande obstáculo a ser enfrentado. Já quem critica enxerga a publicação da foto como produto, cujo interesse principal é a venda em escala para aumentar a renda do veículo de comunicação.

Atrás dos policiais, muitas vezes presentes para fazer operações policiais com objetivo de prender bandidos ou apreender drogas e armas, os fotógrafos correm o risco de levar uma bala. Assim como ocorreu há um ano, quando o repórter cinematográfico Gelson Domingos, da TV Bandeirantes, foi morto depois de atingido por tiro de fuzil na Favela de Antares, Zona Oeste do Rio. Desta forma, no decorrer do filme, questiona-se a falta de segurança que cerca os profissionais da área. Em determinado trecho, mostra-se imagens gravadas no dia 17 de abril de 2007 no Catumbi, quando tiros se aproximam da equipe de jornalistas, que são obrigados a recuar. O gosto pela ação e a falta de conhecimento sobre a noção do perigo são destacados pelos fotógrafos ouvidos, que admitem trabalhar numa profissão perigosa.

Leia também:
Isso daqui não é uma aula de fotojornalismo, de Mauro Pimentel

Qual é o limite do jornalista

Neste ano, época de eleições municipais, um jornalista do Jornal da Tarde – que, recentemente, deixou de circular depois de 46 anos – se candidatou para vereador de São Paulo. Ele apareceu no horário eleitoral, fez ações de campanha, tinha cavalete, número e nome. O objetivo era incorporar o papel do político e contar as experiências vividas durante a campanha. Um dos momentos mais escabrosos foi ouvir “Ah, sem problemas. Já estamos acostumados com esse tipo de trabalho. Aliás, eu até preciso ver se existe disponibilidade de veículos para o dia 7 [dia das eleições]…” de funcionário de empresa que aluga van, kombis, mini-ônibus. Leia alguns posts:


Esta não foi a primeira vez que um jornalista assumiu o papel de outro para entender, contar, enxergar por um ponto de vista diferente. No Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2011, o repórter Lauro Neto, da Revista Megazine – hoje, disponível só online –, do jornal O Globo, inscreveu-se na prova. O veículo divulgou o tema da redação antes da autorização para os estudantes deixarem a sala, e a confusão já estava armada. Uma aluna teria avisado a redação ou o repórter teria passado a informação? O resultado da experiência do jornalista como vestibulando foi contada no texto abaixo, publicado no dia 24/10/2011 e reproduzido na íntegra:

Sem ser repreendido por fiscais, repórter faz a prova do Enem 2011 com itens que eliminaram outros candidatos 
RIO - Quando fiz o Enem pela primeira vez, em 2000, não fiquei tão nervoso quanto na edição deste último fim de semana. Naquela época, a prova servia no máximo para entrar na PUC e não tinha tantos aparatos tecnológicos de segurança para evitar fraudes. No sábado, tive até que tirar meu relógio analógico de pulso a pedido do fiscal. Guardei-o prontamente com meu celular num saquinho que havia trazido de casa, já que ele não me ofereceu a bolsa lacrável recomendada pelo Inep. 

Depois da prova, fiquei intrigado quando soube que, em diferentes partes do país, candidatos estavam sendo eliminados devido ao uso de canetas não transparentes, lápis, borracha e até brincos(!). Perguntei-me se o aplicador da prova não teria atentado para a caneta toda preta que ficou durante mais de cinco horas sobre a mesa. Também achei estranho que estudantes tivessem sido desclassificados por twittarem antes do início do exame. Em pelo menos três salas vizinhas à minha, celulares tocaram durante o tempo de prova, e seus donos foram apenas orientados a desligá-los. 

Por isso, no segundo dia de prova, decidi inovar no visual: adotei não bijuterias, mas boné e óculos escuros - proibidos no edital do Enem. Comprei também um lápis com borracha na porta da faculdade, onde o vendedor garantia aos gritos: "Comprou, passou!". 

Novamente, o fiscal não me forneceu o saquinho e, desta vez, resolvi ousar: guardei meu celular no bolso, no modo silencioso, para não perturbar ninguém. Canetas (azul e preta não transparente) ficaram sobre a mesa, como no dia anterior. 

O aplicador de prova também não percebeu que vários estudantes abriram o caderno de perguntas antes de soar o sinal de início. Só depois de passada meia hora de prova, ele solicitou, educadamente, que eu tirasse o boné e o colocasse embaixo da mesa. Minutos depois, perguntou também se eu podia guardar meus óculos escuros, que estavam presos à minha camisa. Atendi-o prontamente. 

Bateu vontade de ir ao banheiro. Como não havia nenhum fiscal por perto, decidi testar a segurança da prova e mandei um SMS para a equipe de reportagem do GLOBO com o tema da redação: "Viver em rede no século XXI: os limites entre o público e o privado". Que ironia! Eu, em frente à privada, tornando pública uma informação através de comunicação em rede. Deu tempo até de mandar outro torpedo com os títulos e autores dos textos da coletânea. 

Voltei à sala, preenchi a folha de respostas com lápis, canetas azul e preta (não transparente), e dei um título à redação, pensado no banheiro: "Sorria, você está sendo eliminado!". Depois, entreguei aos fiscais e fui embora pensando: se eu fosse um aluno desesperado para entrar na faculdade, poderia até ter consultado a internet pelo celular ou trocado SMS com algum professor para tirar dúvidas... 



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Os imprevistos no jornalismo

Os imprevistos são importantes e fazem parte da profissão. Essa foi uma das lições que o repórter da Globo News Rodrigo Carvalho, de 25 anos, levou na carreira profissional. O jornalista esteve na cobertura do resgate dos 33 mineiros no norte do Chile, há aproximadamente dois anos. A permanência dos mineiros durante dois meses debaixo da terra teve, entre as consequências, o livro de Carvalho, Vivos Embaixo da Terra: Relatos de um Repórter no Resgate Histórico dos 33 Mineiros no Chile (120 Páginas, Editora Globo, 2011). A obra reúne histórias dos bastidores da primeira cobertura internacional dele, algumas contadas por Carvalho, ontem de manhã, na PUC-Rio, em comemoração aos 25 anos do Projeto Comunicar. 

Ele lembra que se envolvia em todas as etapas da reportagem, pois tinha de assumir funções da produção, dirigir o carro, reservar o hotel, etc. Desde a saída do jornalista da redação no Rio de Janeiro, porém, a imprevisibilidade já cercava Carvalho: 

– Estava na inauguração de um laboratório da Petrobras, cobertura para o Jornal das Dez, e aí me liga a editora-chefe do [programa] Sem Fronteiras, Renee [Castelo Branco]. ‘Queria combinar com você o esquema da cobertura dos mineiros no Chile’. Ninguém tinha me falado nada – recordou na palestra para 60 alunos de Comunicação Social. 

Nem todas as lições, porém, foram fáceis de lidar. Quando estava no Chile, o para-brisa do carro alugado ficou estilhaçado por causa de uma pedra, e ele teve de conversar com a locadora de automóvel. Mas a sorte prevaleceu na carreira jornalística, principalmente, na cobertura do resgate dos mineiros: 

– No Chile, quando houve o resgate, a cobertura foi para frente do hospital. Mas eu estava lá dentro, porque eu tinha ido ao banheiro. Fiquei lá dentro, com o meu crachá. A gente foi para a ala dos mineiros e os filmei. Perguntei se eles estavam bem. A matéria do Jornal das Dez foi toda com as imagens do celular.

Os escândalos da BBC


Os britânicos que pagam a licença anual da BBC de £145.50 (aproximadamente R$ 475) se surpreenderam com os bastidores do conglomerado de comunicação.

Em outubro deste ano, a principal concorrente da BBC, ITV, exibiu um programa sobre abusos sexuais praticados pelo apresentador da BBC Jimmy Savile, morto no ano passado. O jornalista Peter Rippon, da BBC, escreve que uma reportagem quanto ao tema tinha sido feita pela emissora. O conteúdo tinha sido, porém, “engavetado”. O caso ganha maior dimensão quando o premier David Cameron pede a reabertura das investigações. A ombudsman do New York Times questiona a recém contratação de Mark Thompson, diretor-geral da BBC de 2004 a 2012, que nega estar envolvido no escândalo. A história de Savile ganha desdobramentos, com revelações de pessoas que foram abusadas pelo apresentador durante a infância. Acredita-se que haja cerca de 300 vítimas identificadas e, em alguns casos, o crime ocorreu dentro da BBC. Pelo menos três médicos do Hospital Stroke Mandeville teriam recebido propina de Savile, encobrindo o apresentador dos abusos sexuais.


Enquanto isso, o programa da BBC Newsnight exibiu reportagem sobre abusos sexuais praticados pelo político Lorde Alistair McAlpine. A emissora não deu o nome dele, mas deu evidências para os telespectadores encontrarem o nome de McAlpine. As acusações não confirmaram, porém, pois tanto ele quanto a possível vítima negaram. O então diretor-geral da BBC, George Entwistle, renuncia o cargo e recebe a compensação de um ano de trabalho, R$ 1,47 milhão. Mais funcionários da BBC se afastam do cargo. Desta vez, a diretora da BBC News, Helen Boaden e o vice dela, Stephen Mitchell, pedem licença temporária, enquanto a empresa analisa por que o programa da BBC sobre Savile não foi ao ar. BBC entra em acordo com McAlpine para indenizá-lo em £185 mil, o equivalente a mais de R$ 600 mil. 

Se fosse no Brasil, todos ainda estariam mamando nas tetas da empresa pública choramingando “Não fui eu! Não fui eu!”.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

A trajetória da Abraji


A morte do jornalista Tim Lopes, executado por traficantes do Morro do Alemão, onde estava infiltrado para fazer uma reportagem investigativa para a TV Globo, em 2002,  foi o estopim para a criação da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Dez anos depois do surgimento do órgão, o atual presidente da associação e editor-chefe do RJTV 2a Edição, Marcelo Moreira, participou de mesa na sala 102-K com o professor da matéria eletiva Jornalismo Investigativo da PUC-Rio, Leonel Aguiar, nesta terça-feira (13).

– Não era normal um jornalista ser assassinado. Se algo não fosse feito naquele momento, o Brasil poderia caminhar para a banalização da morte dos jornalistas – recorda-se Moreira, para aproximadamente 50 alunos.

Moreira acrescentou que a tendência seria a autocensura dos jornalistas por medo, em razão da falta de investigação do crime para encontrar o culpado. A união dos profissionais em busca de respostas podia ser o caminho. A conjuntura internacional, no entanto, não era favorável.

– O Brasil tinha estreado na Copa do Mundo contra a Turquia. Era um momento de festa, e nós, jornalistas, estávamos preocupados em saber onde estava Tim Lopes.


Apesar disso, houve manifestações em Copacabana, na Tijuca, na Penha e encontros no sindicato dos jornalistas. E a partir do momento de tensão, os colegas de Tim decidiram tirar da morte dele algo positivo. Segundo Moreira, o término da matéria que Tim produzia foi cogitado, assim como ocorreu no Arizona, Estados Unidos, com jornalista morto pela máfia que ele investigava. Como não conseguiram acabar a matéria, viram-se obrigados a cobrar “que as autoridades fizessem o papel delas”.

Nos primeiros passos, a função da Abraji se resumia a seminários curtos, de um, dois dias e oficinas para usar Microsoft Excel e banco de dados. Com o tempo, mais profissionais passaram a reconhecer a importância do órgão, e o espaço da organização aumentou. Como exemplo, pode-se citar o prêmio Liberdade de Imprensa dado pela Associação Nacional de Jornais (ANJ) para a organização. (Leia mais)

Moreira adiantou que, de 12 a 15 de outubro de 2013, a PUC-Rio sediará uma das maiores conferências sobre a área, em congresso organizado pela Abraji. Esta será a primeira vez que o evento ocorre fora da Europa. O objetivo é reunir profissionais envolvidos no tema para discutir os métodos e trocar experiências. (Leia mais)


Colocar ou não o nome do traficante Marcinho VP

Durante a palestra, o jornalista também lembrou uma história inviável hoje, pós-morte de Tim Lopes e pós-pacificação da favela Santa Marta, em Botafogo. Ele (então Jornal do Brasil), Nelito Fernandes (então O Globo) e Silvio Barsetti (então O Dia) entrar na favela com o objetivo de conseguir uma entrevista com o cantor Michael Jackson, que gravaria um clipe no local. Nem tudo saiu como os planos, mas a vaidade de Marcinho VP rendeu, no mínimo, uma entrevista sobre o bandido. 

Um trecho do livro reportagem-romance "Abusado" rende uma discussão ética válida para todos que temos a pretensão de ser bons jornalistas. Em 1996, três repórteres dos três maiores jornais do Rio se infiltraram na favela Santa Marta. Os profissionais queriam produzir material exclusivo sobre o assunto que todo o país discutia naquela época: a gravação de um clipe de Michael Jackson no morro. Os três menosprezaram a organização do grupo criminoso que dominava a comunidade e não demorou muito para que fossem descobertos "disfarçados" de "favelados". Até aí, ok. Dois deles eram bem novos e temos de nos arriscar por uma matéria que acreditamos, mesmo correndo o risco de ficar sob a mira das metralhadoras de gente que julga e executa "sentenças" de morte com muito mais "rapidez" que o Estado. (Continue lendo o texto)


Mais sobre Tim

Leia mais sobre o jornalista Tim Lopes com o post A primeira semana, publicado no dia 11 de agosto.